A saúde visual dos mais novos influencia muito mais do que imagina os resultados escolares. Conheça os sinais a que deve prestar atenção para que este ano letivo seja um sucesso.

Todos os dias, os olhos das crianças e jovens são postos à prova e não é só a olhar para o quadro da sala de aula que isso acontece. Grande parte do processo de aquisição de conhecimentos é feita com recurso à visão. E se a isso juntarmos a importância da acuidade visual para brincar, praticar atividade física e explorar o mundo, facilmente percebemos como todo o desenvolvimento da criança acaba por estar muito dependente da saúde ocular.

Prevenir desde cedo

Há muitas formas de cuidar dos olhos desde cedo e ajudar a prevenir a perda de visão:

Passar mais tempo no exterior – As atividades no exterior não só estimulam a visão ao longe como permitem que a luz solar ajude na produção de dopamina, importante para controlar o crescimento dos olhos.

Dormir bem – Uma boa noite de sono favorece a saúde ocular, prevenindo o aparecimento de complicações, já que a melatonina parece ser também importante para manter o tamanho do olho saudável.

Menos ecrãs – Limitar o uso de tecnologia digital vai favorecer a saúde em geral e não só da visão, tendo mesmo a Organização Mundial da Saúde estipulado os intervalos de tempo aceitáveis por idade. A regra é: quanto menos melhor.

Dormir sem tecnologia – Desligar os dispositivos eletrónicos pelo menos uma hora antes de dormir e deixá-los fora do quarto são outros fatores que ajudam na prevenção de problemas.

Quando os olhos têm algum problema, a visão é necessariamente mais limitada e a capacidade para aprender também. E é isso que se passa com cerca de 20% das crianças em Portugal, de acordo com dados do relatório “Saúde Infantil e Juvenil”, publicado pela Direcção-Geral da Saúde, em 2018. Uma em cada cinco crianças no nosso país apresenta aquilo a que os médicos chamam erros refrativos significativos, ou seja, problemas como miopia, astigmatismo, hipermetropia ou presbiopia. Estas são também as causas mais frequentes de diminuição da visão, manifestando-se pelo desconforto ocular e dores de cabeça, entre outros sintomas.

Se estes problemas não forem detetados e corrigidos a tempo – nomeadamente através de óculos, lentes de contacto ou cirurgia – podem evoluir para situações bem mais complexas, sempre com redução de visão associada. Prevenção e deteção precoce são, pois, as palavras de ordem no que toca à saúde dos olhos das crianças e jovens.

Mais ecrãs, mais miopia

Outro fator que parece estar também a contribuir para o aumento dos problemas de visão entre os mais novos, nomeadamente a miopia (dificuldade em ver ao longe), é a utilização crescente de ecrãs, quer seja de televisão, tablets ou telemóveis. De acordo com o estudo português Crescendo entre Ecrãs. Usos de Meios Eletrónicos por Crianças (3 a 8 anos), realizado em 2017, 63% das crianças têm um tablet pessoal, 18% possuem um telemóvel para uso pessoal e 38% acedem à Internet. São, pois, muitos ecrãs e várias horas a usar a visão ao perto, com alguns investigadores a associarem o aumento de miopia ao crescente uso de tecnologia digital. A evidência relativa aos efeitos nefastos da luz azul emitida por estes aparelhos é também ampla, falando-se até da síndrome da visão do computador.

Embora não existam dados específicos para Portugal sobre a prevalência de miopia, sabe-se que este problema tem vindo a aumentar globalmente, estimando-se que 49,8% da população mundial venha a ver mal ao longe até 2050, de acordo com dados publicados na revista Ophthalmoloy, em 2016.

Sinais a que deve estar atento

De acordo com Tânia Silva, especialista em optometria das Lojas da Visão, há vários sinais a que os pais e educadores devem estar atentos. “Até a criança ir para a escola pode ser difícil detetar algum problema visual, à exceção de situações observáveis, tais como estrabismos”, diz, referindo-se ao desalinhamento dos olhos. “Quando chega à escola, a exigência visual é maior e alguns problemas que não eram notórios até à data começam a despontar”, refere, apontando alguns dos comportamentos que podem indiciar problemas.

  • Senta-se demasiado perto da televisão;
  • Lê ou escreve com a cara em cima do livro ou caderno;
  • Perde-se no texto ou salta linhas quando lê;
  • Aproxima os objetos da cara;
  • Pestaneja, pisca e esfrega muitos os olhos;
  • Semicerra os olhos, inclina a cabeça ou fecha um dos olhos para ver melhor;
  • Apresenta desvios do olhar ou roda um olho para dentro ou para fora;
  • Mostra grande sensibilidade à luz;
  • Tem os olhos lacrimejantes com frequência;
  • Baixa as notas repentinamente;
  • Mostra-se relutante em participar em atividades físicas;
  • Não gosta de leituras demoradas.

Segundo Tânia Silva, “ao detetar estas situações, será recomendado o encaminhamento ao especialista da visão o mais rapidamente possível para tratar ou compensar adequadamente o problema”.

Na maior parte das vezes, a correção de um problema de visão passa simplesmente pela utilização de óculos. E porque os modelos disponíveis são cada vez mais adequados às características de quem os usa com um design atraente, a notícia chega a ser acolhida com entusiasmo pelos mais novos.

Atenção aos rastreios

Não é raro que sejam diagnosticados problemas de comportamento a crianças que vêm mal, dando origem a uma série de mal-entendidos. A confusão acontece porque estas crianças distraem-se facilmente ao não conseguirem acompanhar as aulas ou atividades da mesma forma que os colegas. É ainda importante ter em conta que os mais pequenos não sabem queixar-se, já que desconhecem como é ver de outra maneira, ou seja, não têm termo de comparação. Por esta razão, os rastreios são recomendados e o Plano Nacional para a Saúde da Visão estipula, entre outras medidas, que os mesmos sejam feitos entre o nascimento e os 2 anos de idade e posteriormente por volta dos 5 anos, antes de entrar para a escola. Ainda assim, é fundamental que se preste sempre atenção ao comportamento dos mais novos, para melhor e mais facilmente detetar e corrigir qualquer alteração da visão.

Fontes: Jornal Público, Artigo sobre saúde visual das crianças, Novembro 2019; Dra. Tânia Silva, Optometrista Lojas da Visão