Orbitopatia Tiroideia: Como uma doença da tiroide pode afetar os olhos?
“Nem todos os olhos vermelhos e inchados são uma conjuntivite por infeção ou alergia. O diagnóstico e tratamento precoces da orbitopatia e disfunção da glândula tiroideia são cruciais para evitar o potencial impacto negativo que a doença autoimune poderá ter”.
A doença de Graves é uma doença autoimune que conduz a uma hiperatividade da glândula tiroide, com a produção e secreção de quantidades excessivas de hormonas tiroideias (hipertiroidismo). Manifesta-se por sintomas como perda de peso, ansiedade, tremor, sudação excessiva e aumento da frequência cardíaca. Na Europa, cerca de 40% das pessoas com doença de Graves desenvolvem alterações perioculares – que chamamos de Orbitopatia Tiroideia ou Orbitopatia de Graves, também secundárias à disfunção do sistema imune. Mais raramente estas manifestações desenvolvem-se no contexto de hipotiroidismo, ou inclusivamente na ausência de alterações evidentes nos níveis de hormonas tiroideias.
Quais os sintomas e sinais da Orbitopatia Tiroideia?
A orbitopatia passa inicialmente por uma fase ativa, de inflamação, que progride de forma variável ao longo de vários meses e vai-se atenuando espontaneamente. A maioria dos casos são leves e melhoram sem repercussões significativas, contudo alguns pacientes desenvolvem sinais e sintomas mais graves, com eventuais sequelas importantes e persistentes após o desaparecimento da inflamação.
Fique atento a sinais como:
– Retração das pálpebras (ar “espantado”)
– Olho (s) mais saliente (s)
– Olhos vermelhos e inchados
– Sensação de irritação, lacrimejo
– Sensibilidade à luz
– Dor ou pressão nos olhos
– Visão turva
– Visão dupla
Como me posso proteger da Orbitopatia Tiroideia?
Nem todos os olhos vermelhos e inchados são uma conjuntivite por infeção ou alergia. O diagnóstico e tratamento precoces da orbitopatia e disfunção da glândula tiroideia são cruciais para evitar o potencial impacto negativo que a doença autoimune poderá ter. Nestes casos é fundamental o trabalho conjunto entre os Endocrinologistas e Oftalmologistas com experiência nesta patologia.
Saiba que, além do tratamento com anti-inflamatórios que poderá ser necessário em alguns doentes que desenvolvem manifestações oftalmológicas mais graves, alguns cuidados são fundamentais para prevenir o desenvolvimento de Orbitopatia Tiroideia:
– Não fume, o tabaco é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de formas mais graves de doença ocular. Associa-se a uma duração mais prolongada da fase inflamatória e a uma pior resposta ao tratamento, comprometendo assim a recuperação da doença.
– Faça uma dieta equilibrada e variada. O défice de selénio e vitamina D têm sido associados a um maior risco de desenvolvimento de orbitopatia.
– Evite o stress. Sabemos que o risco de desenvolvimento de doença de graves é superior em fases de maior tensão emocional.
No panorama atual o receio de deslocação às unidades de saúde, devido à pandemia, torna-se um desafio para a deteção e tratamento precoces de várias doenças, entre as quais a Orbitopatia Tiroideia. É importante, contudo, relembrar que os hospitais aplicam protocolos e circuitos controlados para segurança de todos. Perante algum dos sinais de alerta enunciados não adie uma observação por um especialista.
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As doenças da tiroide são muitas vezes silenciosas mas são muito comuns, afetando mais de um milhão de portugueses e de 300 milhões de pessoas em todo o mundo.
Em Portugal, surgem por ano mais de 400 novos casos de cancro da tiroide, uma das doenças mais graves que afeta este órgão, de acordo com informações disponibilizadas pela rede de hospitais CUF.
A doença nodular da tiroide é uma das mais frequentes, sendo mais comum no género feminino. A sua prevalência na população em geral varia de 4% a 60%, consoante os nódulos sejam diagnosticados à palpação ou por ecografia, respetivamente.
A tiroide é uma glândula situada na base do pescoço imediatamente abaixo da ‘maçã de Adão’ e é constituída por dois lobos unidos por uma parte central.
A sua função é produzir e libertar para a circulação sanguínea duas hormonas, a tri–iodotironina (T3) e a tetraiodotironina (T4 ou tiroxina), essenciais para o normal funcionamento do organismo, através do controlo/velocidade do metabolismo das células. Por esse facto são essenciais no crescimento e desenvolvimento do organismo, regulam a temperatura corporal, a frequência cardíaca e tensão arterial, o funcionamento dos intestinos, o controlo do peso, dos estados de humor, entre outras funções.
Adicionalmente, a sua atividade é regulada por outras hormonas produzidas por glândulas localizadas no cérebro que detetam os níveis sanguíneos das hormonas tiroideias e assim estimulam a glândula tiroideia a segregar mais ou menos hormonas consoante a necessidade.
O órgão da tiroide pode ser afetado por diversas doenças, de um modo mais geral mais comuns nas mulheres. As patologias principais, são: Bócio, presença de nódulos, hipertiroidismo, hipotiroidismo e as doenças autoimunes, como a Doença de Graves e a tiroidite de Hashimoto, que resultam da produção de anticorpos pelo próprio organismo que podem estimular ou destruir a glândula.
Quais as causas das Doenças da Tiroide?
As causas variam de doença para doença.
No caso dos nódulos, muitas vezes não existe uma explicação para o seu aparecimento. Noutros casos, podem dever-se a causas genéticas, radioterapia da cabeça e pescoço, alguns medicamentos ou a uma deficiência de iodo.
O hipertiroidismo pode resultar de uma doença autoimune, da presença de um nódulo ou mais nódulos que produzem em excesso hormonas tiroideias; de uma tiroidite (infeção viral da tiroide), de um excesso de hormona tiroideia por ingestão excessiva desse tipo de tratamento, de uma ingestão excessiva de iodo a nível alimentar (sal iodado, peixe, marisco e vegetais) ou presente em alguns medicamentos e produtos, como a amiodarona, solução de lugol, contrastes para realização de exames radiológicos.
O hipotiroidismo pode resultar também de uma doença autoimune, da falta ou excesso de iodo o qual é fornecido pelos alimentos (sal iodado, peixe, marisco e vegetais), de uma cirurgia prévia com remoção parcial ou total da glândula, do uso de alguns medicamentos, como a amiodarona, lítio ou interferão; da exposição a radiações durante radioterapia para doenças da tiroide, cabeça ou pescoço.
Sintomas
1. Nervosismo, ansiedade e irritabilidade
O hipertireoidismo ou tireotoxicose (dependendo da causa da doença) leva à elevação da atividade do metabolismo do organismo, inclusive no cérebro, provocando nervosismo, ansiedade e irritabilidade. Além disso, o aumento da produção de calor causa O incremento da transpiração e sensação de calor excessivo, mesmo na presença de temperaturas relativamente mais baixas. A transpiração abundante causa perda da água corporal, O que leva ao aumento da sede e, consequentemente, à ingestão compensatória de líquidos. A pele costuma ficar quente e Húmida. A elevação da atividade metabólica pode provocar ainda irregularidades menstruais, aumento do número de evacuações e diarreia.
2. Taquicardia e cansaço aos mínimo esforço
No caso da taquicardia, a pessoa tem a sensação subjetiva de batimento acelerado do coração (palpitações). Juntamente com o cansaço aos mínimos esforços, são sintomas muito frequentes em pacientes com hipertireoidismo ou tireotoxicose. Esses indivíduos também podem apresentar tremor, hipercinesia (motilidade excessiva, com aumento da amplitude e da rapidez dos movimentos) e hipertensão arterial, especialmente da ‘máxima’ ou sistólica (pressão observada no momento da contração do coração). A hipertensão arterial, na maioria das vezes, não provoca sintomas, mas a pessoa pode sentir dor de cabeça e tontura, por exemplo.
As pessoas com hipotireoidismo podem, também, ter hipertensão arterial, especialmente da ‘mínima’ ou diastólica (pressão observada no momento do relaxamento do músculo cardíaco).
3. Bócio (aumento do volume da glândula tiroide)
As doenças tireóideas podem ocorrer sem alterar a secreção de hormonas. Em alguns casos de inflamação (tireoidite), carência de iodo na alimentação e presença de nódulos, por exemplo, a glândula pode estar aumentada e até mesmo ser visível na região anterior do pescoço.
4. Alterações dos olhos
Sinais oculares como retração palpebral, olhar fixo ou assustado são decorrentes da hiperatividade adrenérgica (adrenalina e noradrenalina) que podem ocorrer em qualquer caso de excesso de T3 e T4.
Já no caso do hipotireoidismo, as pálpebras e o rosto podem adquirir um aspecto inchado. Além disso, os cabelos ficam secos e quebradiços e a aparência apática e melancólica. Pode ocorrer um aumento da queda capilar e a pele comummente apresenta-se fria, áspera e seca.
Outro sinal comum presente nas pessoas com hipotireoidismo é a cor amarelada da derme. Tal deve-se à diminuição da conversão de caroteno em vitamina A no sangue, que resulta na elevação dos níveis séricos de caroteno (carotenose).
5. Hipercolesterolemia (aumento dos níveis de colesterol no sangue)
As hormonas tireóideas influenciam quase todas as fases do metabolismo lipoprotéico. Níveis reduzidos dessas hormonas podem acarretar a elevação do colesterol total e do LDL colesterol (colesterol mau). Podem ainda levar à elevação dos níveis de triglicéridos.
6. Ganho ou perda de peso
Uma vez que as hormonas tireóideas aumentam a atividade do metabolismo, o excesso pode ocasionar redução do peso ao passo que a carência pode resultar em ganho. Assim, quando há aumento ou perda de peso sem motivos aparentes, isto é, sem modificação na dieta e nas atividades físicas, a avaliação das hormonas tireóideas deve ser realizada.
7. Falta de memória e raciocínio lento
São sintomas comuns quando há hipotireoidismo, sendo ocasionados pela redução da atividade do metabolismo do sistema nervoso e dos músculos. A tristeza e a depressão também podem estar presentes.
A diminuição da atividade metabólica pode levar também ao aumento da sensação de frio, fadiga, irregularidades menstruais, rouquidão, redução da mobilidade do intestino e prisão de ventre.
8. Dores e cãibras musculares
O hipotireoidismo origina, frequentemente, dores, cãimbras musculares e sensação de formigueiro no corpo. Isso é decorrente da falta de T3 e T4 nos nervos periféricos e nos músculos. A ocorrência desses sintomas sem motivo aparente pode ser um motivo para investigação da glândula.
Vale lembrar que muitas dessas manifestações clínicas são queixas comuns em pessoas sem qualquer doença da tiroide. Dessa forma, na presença de sintomas e sinais clínicos de problemas de tiroide, consultar um endocrinologista é a melhor solução para ter um diagnóstico exato.
Fonte: Notícias ao Minuto, Hospital CUF Descobertas