Em Portugal, como consequência das alterações climáticas, a exposição à radiação ultravioleta aumenta 3% a cada década. As crianças devem, por isso, estar protegidas nas suas saídas à rua.

A luz ou radiação ótica é uma pequena parte do largo espetro de radiação eletromagnética — que vai das ondas de rádio aos raios gama — e que provém essencialmente do sol. Pode ser classificada em categorias diferentes, dependendo do seu comprimento de onda e nem toda é percecionada como tal pelo olho humano.

A zona do espetro eletromagnético cujos comprimentos de onda vão dos 400 aos 780 nm e em relação à qual o olho humano está provido de pigmentos sensíveis, é a luz visível. Comprimentos de onda mais curtos do que 400 nm são classificados como luz ultravioleta e os mais longos que 780 nm como luz infravermelha.

A radiação ótica compreende assim a radiação ultravioleta (9%), a radiação visível (50%) e a radiação infravermelha (40%). Os óculos de sol oferecem uma dupla proteção: reduzem a intensidade da luz que atinge o olho e eliminam as radiações de maior energia, essencialmente a luz ultravioleta.

As crianças devem ou podem usar óculos de sol?

O uso de óculos de sol é ainda mais importante nas crianças que nos adultos. Em primeiro lugar, porque as crianças passam mais tempo no exterior — 70% da exposição ao sol durante a vida ocorre antes dos 18 anos. Depois, porque, nos mais pequenos, a retina recebe mais radiação ultravioleta (RUV) que nos adultos, em virtude da menor proteção proporcionada pela parte anterior do globo ocular — em particular, o cristalino, ainda muito transparente. Assim, a transmissão da RUV é máxima após o nascimento — cerca de 20% — reduzindo-se lentamente para 2-3% aos 20 anos.

A partir de que idade a criança deve começar a usar óculos de sol?

Não há nenhum motivo para que uma criança com menos de um ano de idade não use óculos de sol, desde que devidamente certificados. A melhor proteção para o sol num bebé é um chapéu de abas largas, óculos de sol e o uso apropriado de protetor solar.

Quais as vantagens de usar óculos de sol?

Em situações que existam níveis elevados de RUV, quer direta — com céu limpo, sol mais na perpendicular, como no verão, ao meio-dia e em locais próximos do equador terrestre, ou locais com menor proteção atmosférica, como alta montanha — como também refletida — neve, gelo, superfícies grandes de água ou areia.

É obrigatório também em crianças com patologias que a tornem mais suscetíveis, tais como a afaquia, o albinismo, a aniridia e problemas retinianos — retinose pigmentar e maculopatia — assim como em crianças que estejam a fazer medicação suscetível de as tornar fotossensíveis.

O IPMA (Instituto Português do Mar e Atmosfera) publica diariamente uma previsão do índice ultravioleta — escala de 0 a 11 — em que com um índice 1 a 2 (baixo) não é necessário proteção; de 3 a 5 (moderado) é aconselhada a utilização de óculos de sol e protetor solar; e, de 6 a 7 (elevado), é reforçada a indicação de óculos de sol com filtro UV, chapéu e t-shirt. A partir do índice 8 deve ser de todo evitada a exposição ao sol em particular das crianças.

As alterações climáticas fazem com que a sua utilização seja cada vez mais importante?

As ações decorrentes das atividades humanas que atingem a atmosfera, poluindo o ar e reduzindo a camada de ozono, principalmente nas latitudes médias e altas, afetam também a RUV que chega à superfície. Esta faz parte do espetro da radiação solar nos comprimentos de onda compreendidos entre 100 e 400 nm.

Mais de 95% dos UV são filtrados pelo ozono situado na estratosfera. A radiação UV-C — 100-280 nm — é totalmente absorvida pelo ozono atmosférico. Cerca de 90% dos UV-B — 280-320 nm — são também absorvidos pelo ozono, o contrário acontecendo com a radiação UV-A (320-400 nm), que atravessa a atmosfera apenas com pequenas alterações.

A depleção da camada de ozono situada na estratosfera favorece a entrada da RUV–C e RUV-B para níveis mais baixos da atmosfera, atingindo a superfície terrestre. Estima-se que a exposição à radiação UV ambiental tenha aumentado no nosso país à razão de 3% por década.

Que efeitos podem ter as radiações solares nos olhos das crianças?

Se a quantidade de RUV exceder os limites a partir dos quais os mecanismos de defesa, inerentes a cada espécie, se tornam ineficazes, poderão ser causados graves danos a nível do organismo humano e, em particular, ao nível dos órgãos da visão e da pele.

É consensual, baseado em evidências a partir de estudos humanos epidemiológicos e estudos animais experimentais, que a exposição continuada à RUV e à luz visível de maior energia — azul-violeta — tem um efeito cumulativo ao longo dos anos, podendo contribuir para o desenvolvimento de doenças perioculares (tumores palpebrais) e oculares, entre as quais se destacam a fotoceratite — queimadura da córnea — pterígio, catarata e degenerescência macular. Estas podem ser prevenidas através de proteção adequada.

Que características devem ter os óculos?

A armação deve ter um formato envolvente e estar adaptada ao rosto da criança de forma a proteger olhos e pálpebras de todos os ângulos — ter em mente a importância da radiação refletida. Este estilo tornou-se popular, por exemplo, nos óculos de desporto. Se a criança pratica desportos, ou se é pequena, deve utilizar uma armação com fita elástica à volta da cabeça que a mantenha segura. A armação deve ser simultaneamente robusta, flexível, suscetível de amortecer o impacto e sem esquinas ou bordos aguçados, de material facilmente lavável, hipoalérgico e não tóxico. As lentes devem ser também resistentes ao choque e aos riscos.

A cor e a qualidade das lentes deve ser uma preocupação?

O mais importante é que as lentes tenham proteção UV 99-100% — que é sinónimo de absorção UV máxima até 400 nm. A cor e a sua intensidade nada indicam sobre o grau de proteção UV. Com efeito, da mesma forma que há lentes incolores que dão proteção UV a 100%, também há lentes coloridas sem qualquer proteção UV. Na verdade, usar lentes escuras sem a adequada proteção UV é pior do que não usar óculos de todo, porque, ao provocarem dilatação da pupila, estas estão a contribuir para uma maior entrada de RUV.

A qualidade ótica e a resistência das lentes são importantes para o conforto e proteção da criança. No seu conjunto, lentes e armação devem estar de acordo com a norma EN ISO 12312-1:2015, o que se encontra atestado pelo fabricante com a sigla CE, que significa que obedeceu às normas.

O que devem os pais fazer quando as crianças rejeitam os óculos?

É frequente que as crianças mais pequenas rejeitem no início os óculos de sol. Além de darem o exemplo, usando eles próprios óculos de sol, os pais devem ser pacientes e contemporizar. É importante a utilização de armações de tamanho adequado que se adaptem ao rosto da criança, com elástico que ajude a mantê-las em posição. As crianças podem levar mais tempo que os adultos a adaptarem-se à novidade, mas em regra acabam por gostar.

Que outras medidas de proteção dos olhos da radiação solar devem ser tomadas?

A melhor prevenção consiste em evitar a exposição solar significativa entre as 10 e as 16 horas. Consulte o índice UV fornecido pelo IPMA antes de planear as atividades no exterior. Se o índice UV for moderado ou superior, adote as práticas de proteção adequadas, incluindo o uso de óculos de proteção UV. Um chapéu de abas largas, ou boné, diminui em 50% a exposição solar direta. Deve instruir as crianças para não olharem diretamente para o sol ou seu reflexo.

E no caso da criança já usar óculos graduados?

Existem no mercado lentes incolores que filtram a RUV a 100%, quer porque são fabricadas com materiais orgânicos específicos, quer porque são fabricadas com filtros UV. Estas lentes incolores, bem como as lentes de cor variável ou fotocromáticas — lentes que escurecem com o sol e se tornam incolores no interior — estão perfeitamente adequadas à proteção UV nas atividades quotidianas de exterior.

Deve ter, no entanto, em consideração que caso a armação não seja envolvente e ajustada ao rosto da criança, os olhos desta continuarão expostos à RUV em situações em que exista muita RUV refletida — neve, praia — a qual passa por fora da armação e da lente.

Que mitos devem ser desconstruídos?

Em relação aos óculos de sol

  • Os óculos de sol não são um adereço de moda, são essenciais para a proteção da RUV, e mais ainda na criança;
  • Lente escura não é sinónimo de proteção UV. Pelo contrário, a proteção UV é independente da coloração da lente;
  •  A utilização de lentes escuras ou fotocromáticas não causa fotofobia nem afeta a médio ou longo prazo a perceção das cores.

Em relação ao índice UV

  • Cuidado com os dias enevoados: se por um lado as nuvens baixas e espessas atenuam a RUV, por outro a nebulosidade em geral pode favorecer a difusão da radiação na atmosfera através das moléculas de água e outras partículas finas, aumentando a radiação difusa;
  • A confusão entre temperatura e exposição UV: é frequente haver índices elevados de ultravioletas em dias com temperaturas amenas, levando as pessoas a exporem-se mais.

Como devemos escolher os óculos ideais para uma criança?

– Numa criança que necessita de óculos com graduação: opte por lentes com proteção UV a 100%, sejam estas incolores ou fotocromáticas. Estas providenciarão uma boa proteção no quotidiano com a exceção das situações de maior exposição à luz ambiente refletida nas quais é preferível uma armação envolvente com lentes coloridas.

– Numa criança sem graduação: tenha em mente que as crianças, porque mais suscetíveis à RUV que os adultos, devem usar modelos com proteção UV a 100% e não de brincar. Para isso, prefira lojas especializadas, como óticas, para garantir que as lentes coloridas têm filtros UV adequados e que as armações têm um formato que proteja os olhos da criança.

– Acessoriamente, escolha a categoria de coloração entre 2 e 3. A categoria 4, muito escura, altera as cores naturais dos objetos e diminui a acuidade visual, sendo indicada apenas para atividades de alto risco como o montanhismo ou desportos náuticos. Prefira as cores cinzentas ou castanho (âmbar).

Fonte: essilor